TERCEIRO FESTIVAL MUNDIAL DAS ARTES NEGRAS

Dakar, 3 - 18 de Dezembro de 2010

COLOQUIO « Renascença Africana e Mundo Negro »

SUB-TEMA 4
« Preservação, promoção do património e memória »

Resumo conferência introdutiva

Titulo
« Sítios e instituições de memória do mundo negro e Direitos do Homem »

A história de África subsaariana foi marcada por volta do fim do primeiro milénio da nossa era, pelo um interminável movimento de deportação de uma mão-de-obra cativa, embarcada ao longo da costa suaheli para o intra ou o além -Oceano Indico.

Este fenómeno de expatriação forcada e de submissão social terá a sua réplica nas regiões sahelianas ou sub-sahelianas onde centenas de milhares de homens, de mulheres e de crianças serão instalados no setentrião do continente.

Esta pratica terá um terceiro eixo, de grande envergadura e provocara a instalação de nigers escravizados na Península Ibérica, na Europa Ocidental e num Novo Mundo.

Esta evolução, particularmente violenta, a qual sucedera a aferrolhagem colonial, deixara, naturalmente, traços materiais e intangíveis, constituindo um dos maus pontos de memória, por excelência, da Humanidade.

Esta sucessão de graves violações contra o homem negro terá como teatro as regiões de caca e captura de vitimas, os lugares de resistências, os itinerários dos acorrentados, através o Sara ou em direcção o litoral do continente, os portos de embarque, os navios, os mercados de venda em leilão de escravos, as minas de ouro e de prata, as plantações de cana-de-açúcar, de algodão, de arroz e de tabaco, os territórios d refugio assim que sítios de revolta, de punição, de humilhação, de tortura, de execução, de massacre, etc.

Esta longa história de opressão será cristalizada na lembrança colectiva dos povos agrilhoados através as suas narrações, os seus cantos, provérbios e outras fixações orais.

Diversas realizações serão engajadas a fim de comemorar esses períodos de brasa esclavagista e colonial.

Assim, foi, por exemplo, assentado milhares de estalões e placas de recordação, erguido centenas de monumentos, construído dezenas de cenotáfios e arranjado museus de escravatura e outras instituições similares em África, na Ásia, na Europa, nas Américas e Caraíbas.

O conjunto desses sítios e estruturas edificadas deve ser preservado, física e juridicamente, e o trabalho de memoria desempenhado, ai, desenvolvida para uma maior recolha das tradições orais, uma maior digitalização de documentos de arquivos, pesquisas mais activas nos domínios da linguística e da antropologia, uma produção mais significativa de actividades de animação e suportes culturais (publicações, CD ROM, exposições, filmes documentários e de ficção, pecas musicais e teatrais, artes plásticas) assim que uma larga inserção na internet e uma maior exploração desse extraordinário instrumento de informação e de comunicação.

Esses eixos de preservação e de promoção do património ligados a esta vertente singular da história dos “Danos da Terra” devem ser alinhadas numa política visando, de um lado, o não -esquecimento da longa tragédia que viveram os melano-africanos, e, de outro lado, e educação, ao nível mundial, do respeito absoluto pelos Direitos do Homem.


Por

Simao SOUINDOULA

Vice-presidente do Comité Cientifico Internacional

Do Projecto da UNESCO « A Rota do Escravo »

C.P. 2313 Luanda (Angola)

Tel. : + 244 929 74 57 34