Reitero-lhe os protestos da minha cordial consideracao. Simao SOUINDOULA A ROTA ANDINA DA ESCRAVATURA ESTE ES EL REY DE LOS CONGOS OU A PRESENCA ANGOLANA NO PERU Esta deferente apresentação anotada, em Lima, nos meados do século XIX por Manuel Fuentes, resume bem, as sobrevivências angolanas neste país de América do sul, que se atira ao longo da costa do Pacifico. Esta perpetuação era inevitável se estivemos em conta factores humanos e económicos que prevaleciam na região, no século XVI. Com efeito, depois dos primeiros sinais de queda demográfica, dramática, dos ameríndios, iniciou-se, logo no inicio do século XVI, introdução massiva da mão-de-obra, escrava, de origem africana. As necessidades humanas eram bastante elevadas. Devia-se corrigir na colónia, o pesado deficit populacional, que se acumulou, entre 1532 e 1628, e que atingia os cinco milhões de indivíduos. O repovoamento do Vice-Reino será assegurado, por, entre outros contingentes de trabalhadores forcados, os negros crioulos e os pretos « bozales ». Este abastecimento se fará, se fera, maioritariamente, por razoes de facilidades de navegação marítima e existência de factorerias portuguesas, a partir de São Tome e Príncipe, o arquipélago -transito do Golfe de Guiné, do litoral do Reino do Kongo, da Colónia de Angola e de Moçambique, através o estuário do Rio de la Plata ; zona de passagem em direcção as minas de prata e as plantações de açúcar do Alto e Baixo Peru. Contingentes de escravos, afectados a tarefas de natureza militar e civil, foram, igualmente, introduzidos nas terras dos Tupac Amaru através o Brasil, grande utilizador de braços angolanos. Documentos de arquivos em Lima confirmam esses lugares de embarque utilizados, entre 1548 e 1560, situados nas « colonias sudecuatoriales », com as precisões toponímicas da época, tais como Cazanga, Manicongo, Enchico (pais teke) eAnbo. A população de origem africana, avaliada em 1614, a cerca de 10 000 indivíduos, ou seja um 1/3 dos habitantes da capital do Vice-Reino devia ter um forte percentagem bantu se tivemos em conta as antigas denominações das sociedades, associações e confrarias tais como Angola, Banguela, Congo, Mangubi, Mondongo e Moçambique. E, esta importância demográfica e social dos nigers bantu na sociedade colonial peruviana, associada à sua ardente e multi-direccional fusão na massa da dezena de formações étnicas ameríndias e a componente castelhana, que propagara e imprimira, definitivamente, elementos culturais da terra dos « homens » no pais andino. A configuração das confrarias africanas evoluindo nas margens do Rimac, permite de apreciar neste processo, o impacto dos locutores bantouisatores que eram cambundas, cangaes, misangas e congos. LA HABLA PERUANA A congregação de los Congos, que parecia a melhora estruturada e a mais frequentada e que tinha a sua sede no planalto de San Francisco de Paula, era um verdadeiro incubador cultural. O resultado bantu desta profunda devoção religiosa, católica, e a famosa fresca do escravo – pintor, « angoleno », Pedro Dalcon, da localidade de Pachacamilla, que fixou, em 1651, o Cristo crucificado. Lealistas, muitos atados ao Kongo dia Ntotela, os originários do “pais da pantera”, insistirão à honrar a sua realeza nas terras do Imperador Atahualpa, como faziam no arquipélago do Golfo de Guiné, na Península ibérica e no Novo Mundo. E, e, naturalmente, que será apresentado, com emoção a Manuel Fuentes, em pleno meio do século limense, « Este es el Rey de los Congos ». Duas hipóteses podem ser, aqui, emitidas. A primeira e a de um verdadeiro membro dos famosos doze clãs de Mbanza Kongo, deportado como cativo, como isto se verificou, varias vezes, em Mpemba Kazi e, a segunda, a de um Congo Real, réplica, eleita, esperada, do Ntinu Reencontra-se uma centena de bantuismos bem inscritos em todo o corpo social peruviano, nos domínios tais como alimentação, a vida quotidiana, a mentalidade, a antroponímia, a música ou os ritos funerários. O Diccionario afroperuano de Fernando Romero editado em Lima, em 1990, pelo Instituto de Estudos Peruvianos, e sobretudo, a sua obra « Quimba, fa, Malambo, neque. Afronegrismos en el Peru » e, a este respeito, edificante… E assim que o mondongo (prato de tripas), comida de escravo, por excelência, no Novo Mundo, especialidade culinária vindo do Ndongo, terra dos Ngola, foi adoptado neste fragmento do antigo Império inca. A denominação desta comida e ilustrativa das adaptações linguisticas que tiveram lugar no alem - Atlântico ; tendo os neo-americanos e neo- caribenhos colado, por antonomase, ao « filete do escravo », talvez sob a maliciosa instigação dos mestres esclavagistas, o topónimo da terra da Rainha Nzinga. Com efeito, esta apelação, pejorativa, designava o preto, sobretudo « bozale ». Os mestres não acordavam, evidentemente, nenhuma atenção aos restos, repugnantes, das carcaças de bois, que os trabalhadores esforçavam-se de limpar. Eles serão surpreendidos pela habilidade culinária africana. A habla peruana, o espanhol do pais dos Planaltos andinos, integrou literalmente, como adjectivos diversos substantivos de origem bantu tais macucu. Utilizado no sentido figurado, faz referência a robustez. Tem um derivado, afectuoso, macuquito. Vem do kikongo, makuku, termo que significa pilhares. A forte estampilhagem chegada da embocadura do Zaïre e das suas zonas adjacentes permitiu a emergência dos ritmoscongas, congoritos, mas igualmente, do famoso lando e o antropológico quimboso. O inevitável marimba, o melodioso xilofone bantu foi, também, reproduzido, a exacta configuração organologica. Permite de se mover sobre a cadença inga. O continuum civilizacional bantu no Peru cujo realçamos, aqui, alguns aspectos, ilustra perfeitamente a solidez da inteligência cultural dos povos de África central, oriental e austral. Com efeito, apesar de uma história excepcionalmente pesada, feita de deportação danosa, de dura exploração e de uma segunda metade do século XIX, particularmente funeste, os escravos angolanos conseguiram influenciar algumas expressões da cultura nacional peruviana, a sua diluição na grande massa ibérica e ameríndia constituindo, a contra corrente, uma dinâmica de expansão, de preservação e de fixação. São os descendentes desses « Danados da Terra », que se engajaram a bem afirmar, nos últimos decénios, justamente, pela causa do assustador processo histórico e biológico que os menorizou, - são, hoje, um pouco menos de 1% da população peruviana -, no contexto da sua pátria, os valores da sua cultura de origem. E, e com toda a razão, que eles implementaram, dentre de numerosas iniciativas tomadas, a, sintomática, da criação do Centro de Estudos afro - peruvianas, denominado Francisco Congo, em homenagem ao célebre líder rebelde afro - peruviano do inicio do século XVII. Este engajamento, exemplar, só pode tornar mais pertinente a colocação pela UNESCO, do ano em curso, sob o conciliador tema da « Aproximação das Culturas do Mundo ». BIBLIOGRAFIA Harth-Terre,Emilio, Presencia del negro en el virreinato del Peru, Lima, Editorial Universitária, 1971. Montiel, Edgar, Negros en Peru. De la conquista a la identidad nacional in Presencia africana en Sudamerica, CNCA, Mexico, 1995. Souindoula, Simão, Artigos, comunicações científicas, notas e resenhas publicados em diversos web-sites, revistas científicas e jornais. Les Africains dans les Amériques et les Caraïbes. Langues, Musiques, Arts et Religions. Kongo dia Ngunga nas margens de la Rio de la Plata. CULTURE AFRO-RIO PLATENSE. LE CANDOMBÉ OU LE GRAND ANCRAGE BANTU EN AMÉRIQUE DU SUD. ROUTE RIO PLATENSE DE L´ESCLAVAGE . DES VOIX ET DES PLUMES BANTU EN AMÉRIQUE AUSTRALE. DIASPORA RIO PLATENSE. ANGOLA E ARGENTINA SÃO, FINALMENTE, PAÍSES IRMAOS. La transtemporalité de l’intelligence musicale et chorégraphique africaine a été préservée ROTA SUL-AMERICANA DA ESCRAVATURA. O TANGO, UMA GEOCINESE “ ANGOLANA “. ESCRAVATURA E AFRICANIA. AS CONVERGENCIAS BANTU ATESTADAS NAS AMERICAS E CARAIBAS. ESCRAVATURA E RELIGIAO. CRENCAS DE RAIZ “ANGOLANA” INTERNACIONALIZARM-SE. La Route de l’Esclave: du projet de l’UNESCO à la réécriture de l’histoire des puissances esclavagistes et de celle des nations africaines. Candombés de Reyes, Llamadas et Conjunto Bantu sur les rives de la Rio de la Plata. Romero, Fernando, Diccionario afroperuano, Lima, Instituto de Estudios Peruanos, 1990. Por Simao SOUINDOULA Vice-presidente Comité Cientifico Internacional Projecto da UNESCO « A Rota do Escravo » C.P. 2313 Luanda (Angola) Tel. : + 244 929 74 57 34 |
Grupo de Estudio creado para la investigacion, recreacion, preservacion y difusion de la Capoeira Angola conforme a sus raices afrobrasileñas.
A ROTA ANDINA DA ESCRAVATURA
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